quarta-feira, 13 de outubro de 2010

Nem hollywood conseguiria!

Escrevo enquanto acompanho o resgate dos 33 mineiros chilenos que ficaram mais de dois meses a 700 metros de profundidade. É impossível não de envolver com uma história dessas. Acabou de sair o primeiro, ainda faltam 32, o que me dá a certeza de que a noite será longa...

Existe uma frase de senso comum, bem clichê, eu diria, que diz o seguinte: "a arte imita a vida". A sentença me veio a mente hoje. Numa hora dessas, alguma produtora hollywoodiana já prepara um roteiro para o filme que irá abarrotar as salas de cinema sobre a tragédia do deserto do Atacama. Seria possível alguém criar um argumento melhor?!

Quando todo mundo acreditava que os homens estivessem mortos, eis que se descobre que não só estavam todos vivos, mas em boas condições de saúde - já não diria psicológicas, seria demais. Eles sobreviveram por 69 dias literalmente enterrados! Que agonia! Minha claustrofobia não me permite um abraço muito apertado, imagina permanecer por esse tempo todo a 700 metros da superfície?!

Bom, esse foi apenas um desabafo de alguém que ainda de surpreende com alguns feitos da raça humana (para o bem ou para o mal). Só me resta esperar que os 33 saiam bem, que eles aproveitem todos os presentes e glórias que lhe esperam, até porque a fama costuma ser efêmera. A incrível história dos mineiros certamente ficará registrada, seja na memória, em filmes, jornais, livros, meios eletrônicos, enfim, mas eles, os heróis do feito, costumam ser esquecidos no tempo.

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Pensamento do dia

Da realidade

O sumo bem só no ideal perdura...
Ah! Quanta vez a vida nos revela
Que "a saudade da amada criatura"
É bem melhor do que a presença dela...

Mário Quintana

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

Japão e Romênia

Sempre que assisto a um filme que gosto, penso em escrever sobre e dividir minhas impressões pra ver se alguém as compartilha comigo. O problema é que passados dois ou três dias e entre uma coisa e outra, acabo deixando pra depois e muitas vezes cai no esquecimento. Pois bem, há alguns dias eu conversava com alguns colegas sobre filmes e citei dois que me agradaram muito.

O primeiro é japonês, A Partida (2008), que levou o Oscar de melhor filme estrangeiro no ano passado. Eu o vi há alguns meses, em 2009 talvez, mas ainda lembro de ser muito bom. Depois da orquestra em que tocava se desfazer, Daigo (Masahiro Motoki) acaba voltando para a cidade onde cresceu com a esposa. Lá o violoncelista encontra um novo emprego: preparar mortos para o funeral. A princípio pode parecer um trabalho bastante estranho, mas ao longo da película dá pra ver a beleza no ritual. O diretor, Yojiro Takita, tornou um tema tão pesado numa narrativa leve e sutil, com direito a risadas no período em que o personagem ganha experiência no novo ofício.

O outro filme me foi recomendado. É romeno e se chama Casamento Silencioso (2008). A história se passa na Romênia de 1953, quando um casamento é interrompido pelo anúncio da morte de Stalin. O luto nacional de uma semana impede que a festa continue, entretanto os noivos, família e convidados resolvem seguir com a comemoração. Se decidirem assistir, prestem atenção no olhar de uma senhora, um dos mais tristes que já vi. Dirigido por Horatiu Malaele.

Ps: Enquanto escrevo, assisto O Poderoso Chefão (ou O Padrinho para os amigos portugueses). Está na cena do restaurante, o Michael acabou de levantar para ir ao banheiro!!!


sábado, 14 de agosto de 2010

Que atire a primeira pedra!

A associação pode parecer estranha, mas depois de explicar pode fazer algum sentido. Ontem tive que escrever sobre casos de condenação a morte por apedrejamento que ocorrem em alguns países (poucos, ainda bem!). Acabei lembrando do documentário sobre Wilson Simonal (1939-2000), que assisti semanas atrás. Agora vem a parte da explicação: a necessidade do homem de, não apenas punir, mas que a punição seja brutal o bastante para servir de exemplo aos demais.

Não quero entrar nos pormenores das mortes provocadas por pedras (que não podem ser muito grandes pra que a morte não seja rápida) arremessadas contra uma mulher enterrada até o busto, mas vale o registro da brutalidade. Tão brutal também pode ser a “simples” exclusão de alguém do meio social em que vive. Nunca sobe muito sobre a vida do Simonal pra além daquilo que ouvia da minha mãe : um cantor que foi acusado – e condenado por todos – de colaborar com a ditadura, mas que nunca se viu prova disso.

Numa época em que quem não era engajado era considerado alienado, o cantor se viu envolvido – aparentemente muito mais por ingenuidade do que por convicção política – numa história que tem explicações controversas. Entretanto, o meio artístico, a mídia, o público, ninguém procurou entender ou desvendar o que realmente acontecera. Foi mais fácil apontar o dedo e mostrar ao mundo o que acontecia a quem fugisse aos padrões intelectual-artístico da época: seria banido.

O filme Simonal – Ninguém sabe o duro que sei (Brasil, 2009), de Claudio Manuel, Calvito Leal e Micael Langer, procura esclarecer algumas lacunas desse momento e contar sobre um artista de origem humilde que fez muito sucesso na década de 1960, a partir de depoimentos de pessoas que estiveram lá. Todos são unânimes em relação ao poder que o cantor tinha em cativar multidões, do quão competente ele era em entreter o público e divertir a massa.

No entanto, “o ritmo em que ele cantava não combinava com o discurso comunista”, afirma Chico Anysio. Havia preconceito por ele ser negro e fazer uma algo tão popular. Mas ao que me parece, a alienação não era completa, basta ouvir Tributo a Martim Luther King, música feita em homenagem ao filho, Simoninha, de quem, a propósito, gosto bastante.

A confusão começou quando ele se viu falido e acusou seu contador de tê-lo roubado. No mesmo período espalha-se uma história de que ele seria informante do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) e a imprensa não tarda em julgá-lo culpado. Os entrevistados afirmam que não houve nenhum movimento de defesa, a classe não o apoiou. No documentário, o ex-contador é entrevistado e conta a sua versão, de que a vida que Simonal levava era extremamente perdulária e uma hora a fonte secou. Ele diz que apanhou de agentes do DOPS e que sua família foi ameaçada até ele assumir o desfalque. Assustada com o desaparecimento do marido, a esposa chamou a imprensa e a história começou a se espalhar.

Uma surra teria sido o problema em que Simonal se envolveu, e não delação política. Mas depois disso, houve um verdadeiro boicote a ele. Seus discos foram retirados dos catálogos das gravadoras e artistas se recusavam a cantar no mesmo lugar que ele. A partir disso, aquele que fora outrora o rei da “pilantragem”, caiu no alcoolismo e na depressão. Já no final do filme os diretores mostram imagens de Simonal, já bastante envelhecido, em programas de televisão com documentos do governo brasileiro que afirmam que ele nunca pertenceu ao serviço de informação.

O assunto virou “tabu” entre artistas, como diz Nelson Motta. Entre eles não se fala muito no assunto. Talvez por arrependimento do que fizeram ou daquilo que deixaram de fazer pelo colega. Simonal morreu aos 62 anos depois de um longo ostracismo.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Eterna estrangeira

Depois de algumas semanas consegui, por fim, terminar de ler a biografia Clarice, de Benjamim Moser. A demora não foi por dificuldades com o livro, muito pelo contrário, o meu problema é uma mania incontrolável de ler mais de uma narrativa ao mesmo tempo! Bom, explicações apresentadas, posso dizer que o livro é muito bom, mesmo. Moser reconstruiu o passado da escritora, desde suas raízes ucrânianas, os terríveis progroms (ataques) que aconteciam na época do seu nascimento, até a infância no Recife, a juventude no Rio de Janeiro, a vida de esposa de diplomata, a maternidade e a sua volta ao Brasil.

A narrativa é sempre contextualizada em momentos históricos, que explicam das questões sociais e políticas de cada fase da vida da escritora Clarice Lispector. Além disso, nas quase 600 páginas da biografia, a descrição de sua obra é feita de maneira minuciosa, com a preocupação de relacionar as histórias e personagens, de Joana a Macabéa.

Da mulher que sempre se falou ser hermética, eterna estrangeira – embora esse estrangeirismo não fosse pelo seu nascimento - , monstro sagrado, descobre-se um lado tímido e reservado, que despertava em muitos um sentimento maternal. Era cuidada por amigos próximos, como não pudera ser pela mãe doente que morreu quando Clarice ainda era uma menina.

No último capítulo, Moser descreve uma entrevista concedida por Clarice em 1977, ano da sua morte, ao jornalista Julio Lerner. Nela, a escritora revela que desde a infância já fabulava, mas diz que nunca se considerou uma profissional na arte literária. "Eu sou uma amadora e faço questão de continuar sendo amadora. (...) pra manter a minha liberdade."

Na ocasião, Clarice também fala da sua última produção, A hora da estrela, até então não publicado. Segundo ela, o romance conta a história "de uma moça tão pobre que só comia cachorro quente, de uma inocência pisada, de uma miséria anônima".

Sempre séria, Clarice fuma durante quase toda a entrevista. A mão deformada pelo fogo acidental que tomou seu quarto anos antes é visível. Sua fala, considerada por muitos estranha e com sotaque (na verdade apenas consequência de língua presa), perde a atenção para a tristeza com que a escritora se expressa. "Estou cansada de mim mesma", diz ela.

O jornalista questiona se ela se ela não vai renascer e se renovar com um novo trabalho - como ela havia mencionado que acontece -. A resposta de Clarice encerra a conversa: "Bom, agora eu morri, vamos ver se eu renasço de novo, por enquanto eu estou morta. Estou falando do meu túmulo."

Eu ainda poderia voltar atrás em retorno aos minutos e recomeçar com alegria no ponto em que Macabéa estava de pé na calçada – mas não depende de mim dizer que o homem alourado e estrangeiro a olhasse. É que fui longe demais e já não posso mais retroceder.” Trecho de A hora da estrela citado em Clarice.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

30 anos sem o poeta

Valsinha
Vinicius de Moraes / Chico Buarque

Um dia ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar
Olhou-a dum jeito muito mais quente do que sempre costumava olhar
E não maldisse a vida tanto quanto era seu jeito de sempre falar
E nem deixou-a só num canto, pra seu grande espanto convidou-a pra rodar

Então ela se fez bonita como há muito tempo não queria ousar
Com seu vestido decotado cheirando a guardado de tanto esperar
Depois os dois deram-se os braços como há muito tempo não se usava dar
E cheios de ternura e graça foram para a praça e começaram a se abraçar

E ali dançaram tanta dança que a vízinhança toda despertou
E foi tanta felicidade que toda a cidade enfim se iluminou
E foram tantos beijos loucos
Tantos gritos roucos como não se ouvia mais Que o mundo compreendeu
E o dia amanheceu em paz

sábado, 19 de junho de 2010

“No dia seguinte ninguém morreu”

Quem me conhece ou costuma visitar o blog, sabe que eu gostava muito do Saramago. Do seu texto, da sua postura, do seu andar calmo de quem carrega sobre os ombros todos os personagens que criou ao longo de uma vida. Nunca fui do tipo que tem muitos ídolos, que idolatra o outro, mas como resumiu uma amiga, “a relação entre leitor e escritor é muito complexa”. De certa forma, só hoje consegui ter noção disso. Não era apenas o gostar das histórias contadas, mas também a identificação com os personagens e a forma como são descritos. Ao ler seus livros, aprendi um pouco mais sobre os mistérios da vida e, como não poderia deixar de ser, me tornei uma pessoa melhor. Já contei aqui o encontro que tive com Saramago em 2008 num final de tarde em Lisboa. Meu peito se encheu de uma ansiedade misturada à euforia de vê-lo. Não fui até ele, não quis perturbar um senhor de mais de 80 anos com a minha curiosidade juvenil. Me contentei em observá-lo, de longe. Num caminhar lento, abraçado à Pilar, ele contemplava a cidade como todos que ali estavam, num dos tantos mirantes da cidade. Era mais um na multidão, não fosse pelo extraordinário talento literário sob aquele semblante de homem comum. Bom seria se a frase do título – que inicia e encerra um dos seus livros, As intermitências da morte – pudesse ser a aplicada a algumas pessoas, poucas e insubstituíveis. O mundo ficou hoje, sem dúvida, mais pobre em ironia, inteligência e boa literatura. E eu, triste e saudosa de um amigo.

“Como está escrito que não se pode ter tudo na vida, o corajoso velho deixará em seu lugar nada mais que uma família pobre e honesta que certamente não se esquecerá de lhe honrar a memória.” (As intermitências da morte, 2005, p.40)

18 de junho de 2010.

domingo, 6 de junho de 2010

Diário vampiresco

Vampiros seguem na moda, é verdade. Mas também é verdade que muito tempo antes do casal Edward e Bella virarem celebridades, eu já gostava das histórias sobre os sugadores de sangue. Não faz muitos anos, eu ainda sonhava que vampiros me mordiam. Lembro de acordar gritando, cansada da luta contra os sanguessugas. Nessa época eu já tinha vinte e poucos anos.

Essa não é a primeira vez que vampiros viram febre. Quando foi lançado o Entrevista com Vampiro (1994), com Tom Cruise e Brad Pitt, foi um auê! O cinema estava lotado, todas as gurias sonhavam ser mordidas pelos astros hollywoodianos. O Drácula de Bram Stocker (1992) também foi muito falado, diziam ser a melhor versão da história. Eu gostei, mas o Keanu Reeves não me agradou muito (nem em O Advogado do Diabo). Mas sou, definitivamente, da geração Vamp (sim, a novela). Ano passado fui à Veneza e a primeira coisa que lembrei ao ver a Piazza San Marco cheia de pombas foi da Natasha (interpretada pela Claudia Ohana) dançando ao som de Please to meet you, dos Rolling Stones.

Relutei em ver a saga do tal Crepúsculo. Entretanto, não podia ignorá-la pra sempre. Numa tarde ensolarada de Natal, assisti ao filme. E aí sim, pude afirmar: é ruim. É muito ruim. O filme tem problemas de roteiro, ele atropela a história. A menina que interpreta a Bella já começa a narrativa com o rosto tenso, não dá tempo de criar um clima de tensão, como se descobrir que o namorado é vampiro fosse algo perfeitamente esperável. Enfim, juro que tentei ver com bons olhos. Ainda assim, resolvi ver o segundo episódio, Lua Nova (2009), e achei bem melhor. Agora sim, parece que a Bella está mais a vontade, com um ex-namorado vampiro e pretendente lobisomem.

O que eu não gosto muito é dessa história dos Cullen serem pálidos daquele jeito, não sei, não me agrada. O mesmo não posso dizer sobre os irmãos Salvatore, de The Vampire Diaries, que aparentam se perfeitamente saudáveis. A série é ambientada na pequena Mystic Falls e está centrada num triângulo amoroso que dura séculos. Damon é o vampiro do mal e Stefan o irmão do bem (embora eventualmente eles invertam os papéis, o que é normal não só em mortos-vivos). Além de Elena, a mocinha que se encanta pelos dentuços.

É interessante que cada autor tem regras próprias para os seus vampiros. Em Crepúsculo, eles não dormem e ao sol eles brilham; em The Vampire Diaries existe a verbena, uma espécie de kriptonita dos vampiros. Parece que os sugadores modernos não se transformam em morcegos e nem descansam em caixões, algo como “old style”. Em comum, todos bebem sangue, embora não necessariamente mordam e matem pessoas (só os do mal). De repente se eu encontrar com um desses bonzinhos nos meus sonhos, não precise me apavorar tanto. Podemos até nos tornar bons amigos, sair pra beber alguma coisa…

ps: O mais divertido de todos é uma sátira com o ator Leslie Nielsen, Dracula: Dead and Loving It (1995), rende boas risadas.

ps2: Preferi deixar a Buffy de fora, mesmo gostando do David Boreanaz (atual Seeley Bouth de Bones) e da Alyson Hannigan (atual Lily de How I met your mother).

domingo, 23 de maio de 2010

Fado da saudade

Outro dia, na aula de francês, durante um exercício de conversação, a professora perguntou de onde sou, respondi: “Je suis portugaise”."Êtes-vous portugaise?”, insistiu ela, “Oui”, voltei a responder. Alguns segundos depois, consegui me corrigir,"Pardon, je suis brésilienne”. É fácil de explicar o ato falho, minha herança portuguesa não se restringe apenas ao nome, mas também num jeito de ser que permite que eu me confunda às vezes.

Lembrei disso hoje porque assisti ao filme Fados (2007), de Carlos Saura. Nele, são mostrados diversas variações do fado e como esse som, que é conhecido por ser tipicamente português, também pode se misturar a outros. Mas mesmos os fados mais alegres parecem manter aquele tom melancólico, que caracteriza a música. “Na minha velha Lisboa de outra vida/ Quem vive só do passado sem motivo/ Fica preso a um destino que o invade/ Mas na alma deste fado sempre vivo/ Cresce um canto cristalino sem idade.

Quando se toca o fado, faz-se silêncio. Pode-se estar num bar ou restaurante, não interessa o local, todo e qualquer comentário fica pra depois da apresentação. Como se aquele lamento tivesse que ser compartilhado por todos. Não basta ouvir, é preciso sentir. “O tempo vai-se passando/ E a gente vai-se iludindo/ Ora rindo/Ora chorando/ (…)Afinal o tempo fica/ A gente é que vai passando.

Já reclamei muito do mau humor dos portugueses, do quanto eles são sisudos, carrancudos e intolerantes. Talvez eu tenha herdado um pouco disso também. Mas principalmente, nasci com uma melancolia, uma tristeza no olhar que encontrei em muitos olhos dos lusitanos“Ó gente da minha terra/ Agora é que eu percebi/ Esta tristeza que trago/ Foi de vós que recebi.”

O estranho disso tudo, é o facto de que quando estava em Portugal, todos os dias encontrava alguém pra me lembrar que eu não pertencia àquele lugar. E pior, quando pensei que voltava pra casa, descobri que tampouco o Brasil me acolheria como um filho que retorna. Deve ser esse sentimento de ser eterna estrangeira que Clarice nutria. “Ai de mim se eu pudesse/ Saber o que em mim vai.

Ps: os trechos citados são de fados presentes no filme.

quinta-feira, 20 de maio de 2010

"Madame Bovary c´est moi"

Orgulho e Preconceito, Jane Austen

Não se contentem com o filme! Elizabeth Bennet e Mr. Darcy são muito mais interessantes na descrição da escritora inglesa.

Clarice, Benjamin Moser

Ainda estou lendo, mas, desde a primeira página, encantada com a biografia da escritora Clarice Lispector. História e literatura se confundem numa Clarice cheia de paradoxos. Belo trabalho do escritor americano.

domingo, 9 de maio de 2010

Whatever works

Nunca fui fã de Woody Allen. Mas ele sabe ser genial na construção de personagens excêntricos, curiosos e mau humorados (mas que de preferência, não seja ele a interpretar!) Assim acontece em Tudo pode dar certo (2009), a volta do diretor ao cenário novaiorquino depois de alguns anos filmando na Europa. O filme fala de Boris Yellnikoff (interpretado brilhantemente por Larry David), que combina inteligência, ironia e sarcasmo num personagem hilário ao melhor estilo do cineasta americano. Depois de uma tentativa frustrada de suicídio, ele larga esposa e uma vida confortável pra viver no centro de New York e passa a dar aulas de xadrez para crianças. Por conta do destino, acaso, ou qualquer coisa que o valha, Allen cria um casal improvável: um físico já na terceira idade, que se julga gênio, cheio de manias, antigo professor universitário e uma jovem (interpretada pela bela Evan Rachel Wood), sulista e encantadoramente ignorante. O que mais poderá dar certo?

Falando em não ser fã de Allen, gostei muito de Mach Point (2005), filmado na Inglaterra e que não tem nada a ver com seus filmes anteriores ( quer dizer, em comum a boa direção). O clássico da literatura Crime e Castigo, de Dostoiévsky, foi muito bem transposto para a sociedade atual londrina. Dos clássicos de Woody Allen, Um misterioso assassinato em Manhattan (1993) me agrada muito. A neurose do casal é contagiante, nunca consigo trocar de canal. Melinda e Melinda (2004), o último antes do início da “era européia” de Allen, discute a comédia e tragédia. Não me despertou muito interesse. Scoop (2006), também filmado em Londres, traz Allen no papel de um mágico atrapalhado. Não achei piada. E teve Vicky Cristina Barcelona (2008), filmado na capital catalã, foi uma bela tentativa de fazer um filme a la Almodóvar. Agora é esperar pra ver Carla Bruni dirigida por Allen.

Ps: vcs sabiam que cantar parabéns enquanto lava as mãos ajuda a matar os germes?!

sábado, 1 de maio de 2010

Ah, o Pessoa...

"Não, não é cansaço...
É uma quantidade de desilusão
Que se me entranha na espécie de pensar,
É um domingo às avessas
Do sentimento,
Um feriado passado no abismo...

Não, cansaço não é...
É eu estar existindo
E também o mundo,
Com tudo aquilo que contém,
Com tudo aquilo que nele se desdobra
E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais

Não. Cansaço porquê?
É uma sensação abstracta
Da vida concreta -
Qualquer coisa como um grito
Por dar,
Qualquer coisa como uma angústia
Por sofrer,
Ou por sofrer completamente,
Ou por sofrer como...
Sim, ou por sofrer como...
Isso mesmo, como...

Como quê?...
Se soubesse, não haveria em mim este falso cansaço.

(Ai, cegos que cantam na rua,
Que formidável realejo
Que é a guitarra de um, e a viola do outro, e a voz dela!)

Porque oiço e vejo.
Confesso: é cansaço!..."

Álvaro de Campos

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Délibáb


Como é linda a liberdade/ sobre o lombo do cavalo/ e ouvir o canto do galo/ anunciando a madrugada/ dormir na beira da estrada/ num sono largo e sereno/ e ver que o mundo é pequeno/ e que a vida não vale nada.” João da Cunha Vargas

Foi numa tarde cinzenta, fria e chuvosa deste início de inverno que meu irmão chegou com o novo disco do Vitor Ramil. “Olha, comprei pra ti”,me disse ele. Talvez nem o fosse, mas como estava doente, acabou sendo. A palavra que Ramil escolheu para dar nome ao álbum, Délibáb (déli: do sul + de bába: ilusão) é húngara e significa miragem. Ela foi retirada, “não por a caso”, do seu romance Satolep (2008). Neste disco, ele registra em voz e dois violões, poemas do argentino Jorge Luís Borges e do gaúcho José da Cunha Vargas musicados por Vítor Ramil. Onze, das 12 faixas, são acompanhados pelo violonista Carlos Moscardini. As músicas não são novidade, já que muitas (não tenho certeza se todas) estiveram noutros CDs e também em shows. “Borges escreveu sobre o gaúcho e a poesia gauchesca. Vargas foi o próprio gaúcho e elaborou seus poemas”, explica o cantor no documentário que compõe o trabalho e traz imagens da gravação e mixagem de Délibab em Buenos Aires, em junho de 2009, e também mostra andanças do cantor pela cidade de Borges e pela Alegrete de João da Cunha Vargas. Um dos motivos, segundo Ramil, que o levaram a escolher a capital portenha para a produção do disco foi porque Borges acreditava que a verdadeira música de Buenos Aires é a milonga.

Sempre achei a voz de Vitor Ramil uma das mais bonitas, senão a mais. Ela tem uma sonoridade aveludada, se é que isso é possível, quase como um chimarrão tomado numa tarde fria de inverno, acolhe. A decisão por usar voz e violão neste trabalho pode parecer simplista, mas o resultado é um som sofisticado e bem estudado, como se pode observar no trabalho em estúdio e em depoimentos mostrados no DVD. O nome tem tudo a ver com o disco, mas isso não dá pra contar, só ouvindo. “Como não ficar maravilhado diante daquela ilusão do sul, ainda que seja só um délibáb.” Vitor Ramil

sábado, 24 de abril de 2010

Depois de Hollywood e Bollywood, é a vez del Cine Argentino


Embora não muito divulgado (fora do circuito América Latina e Espanha), o cinema produzido pela Argentina tem crescido prodigiosamente. O Oscar de Melhor Filme Estrangeiro concedido este ano ao emocionante “El secreto de sus ojos”, de Juan José Campanella, não foi surpresa. Alheios à insistente comparação com o cinema brasileiro - feita por muitos críticos -, as películas produzidas pelo país vizinho melhoram a cada ano não só nos quesitos técnicos, mas também nas escolhas das histórias.

No caso desse último filme premiado, o diretor repete a parceria com o ator Ricardo Darín. Os dois haviam trabalhado juntos em “El hijo de la novia”, também indicado ao Oscar de 2001, “Luna de Avellaneda”, 2004 e em “El mismo amor, la misma lluva”, 1999, em que Darín fez par com Soledad Villamil , atriz com quem contracena em “El secreto”.

O roteiro de “El secreto de sus ojos” traz a história de um recém aposentado que procura preencher seu novo tempo ocioso ao escrever um livro. O tema que Benjamim Espósito escolheu para estrear nas artes literárias é caso judicial no qual trabalhou na década de 70: uma jovem violentada e morta em casa. A essa lembrança juntam-se outras que fizeram parte da sua vida, como a de um amor mal resolvido, de uma amizade perdida e de um marido desolado.

Passados 25 anos, parece que tudo aquilo aconteceu noutra vida, guardado num passado distante. Entretanto, ao mexer em lembranças, até então adormecidas, Espósito se dá conta de que de a vida é a mesma e continua a correr. De repente, é preciso lidar com uma investigação a ser concluída, uma história a ser contada, sentimentos confusos que afloram e, dessa vez, nada pode ser ignorado.

Quanto tempo pode durar um amor? Ou, quantas vezes somos desmentidos pelos nossos olhos? Quantas vezes nossos segredos são revelados, sem que possamos controlar, através de um olhar? São sutilezas desse tipo que o filme, que é baseado no romance homônimo de Eduardo Sacheri, nos leva a refletir. “El secreto” também recebeu o Goya, premiação anual do cinema espanhol, de melhor filme hispanoamericano e atriz revelação para Soledad Villamil.

A película é a segunda a dar o Oscar de filme estrangeiro ao país. O primeiro foi “La história oficial”, de Luis Puenzo em 1986. Em entrevista concedida depois da premiação, em Buenos Aires, o protagonista Ricardo Darín afirmou que os concorrentes eram excelentes, entretanto, o que os diferenciou dos demais foi o humor. E, de fato, surpreende essa aparente vocação dos argentinos para fazer rir. Filmes como “Tiempo de Valientes”, 2005, “Nueve Reinas”, 2000 (que agradou tanto a ponto de receber uma versão hollywoodiana), “Cleopatra,” 2003, e “Valentim,” 2003 (isso para citar apenas os que assisti), tem em comum uma boa história, envolvente e regadas com um humor leve que acompanham a narrativa.

No portal oficial do país (www.cine.ar) é possível acessar um concurso que está elegendo os 10 filmes representativos do centenário do cinema argentino (1909-2009). Em primeiro lugar está o “Nueve Reinas”, de Fabián Bielinsky e estrelado também por Ricardo Darín, sem dúvida, o principal ator do cinema contemporâneo produzido pelo país. Em 2004 o filme recebeu um remake americano, “Criminal” dirigido por Gregory Jacobs e teve a participação do mexicano Diego Luna no papel de suposto aprendiz de golpista. Especulações à parte, é fato que o original sempre supera a cópia. Para votar na seleção basta fazer cadastro no site.

Março de 2010

quarta-feira, 21 de abril de 2010

A cartomante

Não, esse não é o conto do Machado de Assis, essa história é minha. Fui pela primeira vez a uma cartomante hoje. Passei a tarde toda pensando na Macabéa, de A Hora da estrela, foi inevitável. Eu estava numa ansiedade, o que será que ela ia me dizer? Quais seriam as previsões, boas ou más? Meu único desejo era não ter o final trágico das personagens de Machado de Assis e Clarice Lispector! Também não pude ignorar a novela das oito, imagina, previram um acidente e a guria ficou tetraplégica! Mesmo se tratando de ficção, assusta qualquer um. Bom, chegou a hora marcada. Era uma casa humilde, muito bem arrumada e asseada. Nas paredes e sobre os móveis havia muitos quadros e porta-retratos com fotos, todas dela. Me permiti fazer alguma adivinhações também, ela certamente não tinha filhos, mas isso não a fizera menos feliz. Aparecia sempre sorrindo. Sentei pra esperar a minha vez e meus pensamentos não paravam. Fazia um calor insuportável no segundo dia de verão. Será que ela também pode ler o que pensamentos? Tentei, então, parar de pensar, peguei uma revista e comecei a olhar figuras. De repente, me chamaram. Era uma sala pequena e escaldante. “Desculpa, é que não posso ter ventilador por causa das velas”, justificou-se. De fato, havia muitas velas acesas, todas no chão ao lado de santos e orixás. “Qual o teu primeiro nome”, perguntou, respondi. “Corta o baralho em três montes”, pediu. Me senti numa cena de cinema ou de novela mesmo. Ela nem precisava ter dito, eu já sabia o que fazer: sempre se corta o baralho em três montes iguais. Ela começou a virar e interpretar as cartas. Não vou entrar em detalhes sobre o que me foi dito, até porque, ela acertou (acredite se quiser) algumas coisas do passado. O que mais me interessava era o futuro, óbvio, mas o fato de alguém citar alguma coisa que já me aconteceu, deu medo. Crenças e crendices a parte, é impossível não se deixar levar pela curiosidade e por toda a atmosfera mística que envolve esses cenários. Foi uma experiência no mínimo interessante, saí de lá com um misto de euforia e decepção. Euforia porque, claro, é sempre bom acreditar em boas previsões, mas segue a incerteza, inerente a vida, sobre o que vem. Provavelmente foram apenas palavras que, como todas – boas e más -, perdem a força com o passar dos anos. Uma das primeiras cartas dizia que tenho a proteção das estrelas. Quero acreditar que pelo menos essa seja verdadeira.

Ps: Acreditando ou não, passei uma semana sem atravessar ruas.

Dezembro de 2009

terça-feira, 20 de abril de 2010

The Notebook


O melhor romance da década. Eu não vejo muitos romances, o meu forte é drama, mas esse me fez parar pra assistir, o que foi um bom sinal. A primeira vez foi em 2006, quando estava em Vancouver. As pessoas já o conheciam (o filme é de 2004), mas pra mim era novidade. Escrevo agora porque em mais uma noite insone, liguei a televisão e estava dando o filme que conta a história de Allie e Noah. Parei pra ver, pela décima quinta vez, provavelmente. O casal ajuda bastante, Ryan Gosling – que fez aquele filme com o Anthony Hopkins, “Um crime de mestre” – e Rachel McAdams, a nova namoradinha de Hollywood. “Just picture your life, 30 years from now.” O exercício é bom, nem que seja pra pensar um pouco na vida...

*No Brasil o nome do filme é Diário de uma paixão, meio brega, não?!

domingo, 18 de abril de 2010

Chico Forever!

O Chico letrista sempre me agradou mais que o Chico escritor. Até o mês passado, quando li “Leite derramado”. Nada mais natural, uma mente capaz de criar “Trocando em miúdos”, “Apesar de você”, “Folhetim”, “Geni e o zepelim”, escrever um belo romance. Não que os anteriores (Estorvo, Benjamim e Budapeste) não fossem bons, mas nenhum deles despertou em mim o mesmo interesse que a história da família Assumpção. Enquanto lia, não pude evitar a lembrança dos Buendía, de “Cem Anos de Solidão”, de Garcia Marquez. Talvez pelas duas narrativas estarem centradas em universos famíliares, de pessoas solitárias e com repetição de nomes de herdeiros. Enfim, lembranças à parte, “Leite derramado” é narrado por um senhor, num leito de hospital, e é dalí ele conta a saga de sua (outrora) importante e (há muito) decadente família. Embora a memória do narrador se permita alguns devaneios e idas e vindas no tempo, Eulálio d´Assumpção conta dos ancestrais portugueses ao tataraneto mulato num texto conciso e bem articulado, o que instiga o leitor a devorar o livro o mais rápido possível.

Dias depois de ler “Leite derramado” encontrei o livro de Wagner Homem, no qual ele compilou canções composta por Chico Buarque e as histórias que dessas canções. Principalmente pra quem gosta de história, é muito divertido saber como foi feita letra e música, o que acontecia na época, se sofreu censura, etc. Um bom exemplo é “Atrás da porta”, a primeira feita em parceria com Francis Hime e a única, segundo Homem, composta na frente dos outros (já que Chico prefere compor sozinho). A música, de 1972, teve um verso modificado pela censura: “E me agarrei nos teus cabelos/Nos teus pelos” foi substituído por “E me agarrei nos teus cabelos/No teu peito”. Também foram alvo da implacável censura exercída pelo regime militar vigente no Brasil na década 70 “Cálice”, parceria com Gilberto Gil, “Partido Alto”, composta para o filme Quando o carnaval chegar, de Cacá Diegues, “Apesar de você”, que foi a princípio liberada e depois teve do discos recolhidos das lojas e tantas outras. Toquinho, que escreveu a orelha da obra, resume bem a idéia do livro: “Músicas têm histórias e é bom saber delas, principalmente das de Chico.”

Leite derramado, Chico Buarque, Companhia das Letras – São Paulo, 2009.

Histórias de canções de Chico Buarque, Wagner Homem, Leya - São Paulo, 2009.

Trocando em Miúdos: http://www.youtube.com/watch?v=hn4JyodL7K4&feature=related

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Caim, o contestador

“A história dos homens é a história dos seus desentendimentos com deus, nem ele nos entende a nós, nem nós entendemos a ele.” (SARAMAGO, José. Caim, Companhia das Letras, São Paulo, 2009,p.88)

A história é antiga, está escrita na Bíblia: Caim matou seu irmão, Abel. Seu castigo: seguir errante pelo mundo com uma marca de Deus. José Saramago reinventa a narrativa do Antigo Testamento e conta os pormenores da vida de Caim, perdido no tempo e espaço, e a quem não parece certa essa história dos desígnios de Deus serem “inescrutáveis”. O livro leva o nome do protagonista.

A minha primeira e grande descoberta foi saber que Caim e Abel eram filhos de Adão e Eva! Há quem possa me chamar de ignorante, mas a palavra é essa mesma: ignoro a maior parte da história narrada no livro sagrado dos cristãos. A segunda foi saber que Caim matou o irmão “por não poder matar o Senhor”. O livro segue uma série de acontecimentos que servem de exemplos para demonstrar toda a insatisfação do filho do casal expulso do Jardim do Éden para com o Deus criador.

Quando do lançamento do livro, muito se falou e criticou a obra e seu escritor pela sua volta aos temas religiosos. Saramago já criou muita confusão com a igreja católica quando escreveu O Evangélio segundo Jesus Cristo, e agora não seria diferente. José Saramago nasceu num dos mais conservadores e católicos dos paises, Portugal. Foi com a leitura dos seus livros que comecei a entender o porquê de muitos portugueses “torcerem o nariz” para o ilustre escritor.

Ainda quando estava em Portugal – onde morei por quase dois anos – ouvi de um colega de estágio: “ Ah, este novo livro do Saramago é como todos os outros, já sabe-se o que vai acontecer. Nem terminei de ler.” Outros presentes concordaram com o comentário. A obra em questão era A viagem do Elefante, lançado em fins de 2008. Eu me mantive calada, ainda não os conhecia e não queria criar inimizades já nos primeiros dias. Mas fiquei bastante incomodada pela maneira como se referiam ao único Nobel de Literatura em língua portuguesa.

Não conheci muitos portugueses com a vocação de contestador de Saramago. Não se trata de uma generalização ou mesmo de uma ofensa, apenas compartilho minha experiência. Talvez seja mais uma explicação para a falta de apreço por parte de muitos conterrâneos à obra do escritor. O personagem criado pelo português, Caim, parece ter muito do seu criador: inconformado, questionador, indignado, provocador. Se permitir chamar ao Deus que todos temem de injusto, ciumento e malvado e também discutir com o Senhor sobre tudo aquilo que lhe parece cruel e incompreenssível , não é para qualquer um.

Muitos críticos disseram que Saramago estava predeterminado a polemizar. Talvez estivesse. Entretanto, não acredito que isso tenha interferido na qualidade literária do texto. Apesar de parecer uma narrativa densa por tratar-se de um texto com poucos parágrafos, diálogos entre vírgulas e nomes próprios em letras minúsculas, a leitura flui tranquilamente. As descrições dos desertos e paraísos, de passagens bíblicas conhecidas do senso comum, além do característico humor requintado, se traduzem numa narrativa atual, irônica e contestadora.

31 de dezembro de 2009

quinta-feira, 15 de abril de 2010

I am back!!

Pessoas, voltei!!!

Ainda não tenho certeza se é uma volta definitiva, mas prometo que farei o possível (claro que a promessa é pra mim mesma!)!
Anyway, vou tentar postar alguns textos que produzi nos últimos meses e espero recuperar pelo menos metade dos meus dez leitores.
Para os novos adeptos, aviso que o blog não é temático. Escrevo sobre filmes, livros, coisas que gosto e não gosto, compartilho poemas, fotos, devaneios, indignações e alegrias.
Aguardo comentários.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

A vida dos outros

*A Viagem a Darjeeling ( The Darjeeling Limited, 2007). O filme de Wes Anderson traz Owen Wilson, Andrien Brody e Jason Schawartzman numa “jornada espiritual” pela Índia. Os três irmãos – e hipocondríacos – partem numa viagem de trem em busca de autoconhecimento e de uma re-aproximação, já que não se falam há um ano. Mas como em toda viagem, planos mudam e malas atrapalham. O filme conta ainda com a participação de Natalie Portman, numa sequência com Jason Schwartzman muito curiosa, e Anjelica Huston. Fazia tempo que eu não me divertia tanto. A narrativa é muito bem amarrada, engraçada sem cair no ridículo.

* A vida dos outros (Das Leben der Anderen, 2006). O filme acontece na Alemanha Oriental, e trata sobre o sistema de esponagem usado na época. É incrível como a vida dos outros pode envolver e nos parecer tão mais interessante do q a nossa! Isso é o que acontece com o espião responsável por vigiar o dramaturgo Georg Dreyman a mando do ministro da cultura que estava interessado em Christa, namorada de Georg. O filme venceu o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e foi indicado ao Globo de Ouro na mesma categoria. Assisti ao filme ontem, pela segunda vez. O engraçado é que não consigo lembrar onde e quando foi a primeira.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

366 dias!

O blog fez aniversário ontem e eu, relapsa, deixei passar! Só lembrei no meio da minha noite insone, mas tudo bem, ainda é tempo de agradecer todos que por aqui passaram!

Obrigada!

domingo, 4 de outubro de 2009

Gracias a la vida

Gente, a Mercedes Sosa morreu. Não sei exatamente quando foi a primeira vez que a ouvi cantar, mas lembro de ouvir muitas vezes um disco que nós tínhamos em casa quando eu era pequena. Assim aprendi a gostar daquela voz grave. Pra aqueles que não sabem do q eu estou falando, a cantora argentina Mercedes Sosa foi chamada de “a voz da América Latina”, ficou exilada na Europa durante a ditadura no seu país e morreu hoje aos 74 anos. Entre os grandes sucessos, Gracias a la vida (de Violeta Parra).

Gracias a la vida que me ha dado tanto
Me dio dos luceros que cuando los abro
Perfecto distingo lo negro del blanco
Y en el alto cielo su fondo estrellado
Y en las multitudes el hombre que yo amo

Gracias a la vida que me ha dado tanto
Me ha dado el oído que en todo su ancho
Graba noche y día grillos y canarios
Martirios, turbinas, ladridos, chubascos
Y la voz tan tierna de mi bien amado

Gracias a la vida que me ha dado tanto
Me ha dado el sonido y el abecedario
Con él, las palabras que pienso y declaro
Madre, amigo, hermano
Y luz alumbrando la ruta del alma del que estoy amando

Gracias a la vida que me ha dado tanto
Me ha dado la marcha de mis pies cansados
Con ellos anduve ciudades y charcos
Playas y desiertos, montañas y llanos
Y la casa tuya, tu calle y tu patio

Gracias a la vida que me ha dado tanto
Me dio el corazón que agita su marco
Cuando miro el fruto del cerebro humano
Cuando miro el bueno tan lejos del malo
Cuando miro el fondo de tus ojos claros

Gracias a la vida que me ha dado tanto
Me ha dado la risa y me ha dado el llanto
Así yo distingo dicha de quebranto
Los dos materiales que forman mi canto
Y el canto de ustedes que es el mismo canto
Y el canto de todos que es mi propio canto

Gracias a la vida, gracias a la vida

http://www.youtube.com/watch?v=WyOJ-A5iv5I

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Disfarce

Às vezes, acordo com alguém me chamando: “Juliana!”. Então levanto a cabeça, olho ao redor e não há ninguém. Talvez isso faça parte de algum sonho, não sei. Quantas vezes acordo ainda com aquela sensação boa do sonho, desejando voltar praquele universo paralelo em que tudo parece em perfeita harmonia. Apelei para o Quintana, o que ele me disse em “Os Parceiros” foi o seguinte:

Sonhar é acordar-se para dentro:
de súbto me vejo em pleno sonho
e no jogo em que todo me concentro
mais uma carta sobre a mesa ponho.

Mais outra! É o jogo atroz do Tudo ou Nada!
E quase que escurece a chama triste...
E, a cada parada uma pancada,
o coração, exausto, ainda insiste.

Insiste em quê? Ganhar o quê? De quem?
O meu parceiro... eu vejo que ele tem
um riso silencioso a desenhar-se

numa velha caveira carcomida.
Mas eu bem sei que a morte é seu disfarce...
Como também disfarce é a minha vida!


Mário Quintana

sábado, 12 de setembro de 2009

"Ó meu gentil Romeu"

Li, algumas semanas atrás, sobre um casal britânico que ficou 81 anos casados. A união só acabou por causa da morte do marido, aos 101 anos de idade. Lembrei da pergunta que lancei outro dia aqui no blog, será possível um amor recíproco não acabar em tragédia?! Cheguei a conclusão que não, a tragédia parece inerente á vida daqueles que amam. Aos olhos de quem está de fora, o desaparecimento de um senhor centenário é algo natural, até mesmo inevitável, mas para a senhora que esteve ao lado dele nos últimos 80 anos, a perda do seu companheiro deve ter sido um drama.
O que faltou para casais como Tristão e Isolda, Romeu e Julieta e tantos outros foi tempo, para que vivessem um pouco mais daquele amor. E se tempo tivessem, será que teriam a paciência, a persistência para viverem mais de 80 anos juntos? Será que o amor de Tristão e Isolda teria durado para além dos três anos que a poção do amor lhes permitia?
Numa passagem do texto de Shakespeare, Julieta, insegura como toda mulher apaixonada, pede a Romeu que se declare: “Ó meu gentil Romeu! Se amas, proclama-o com sinceridade; ou se pensas, acaso, que foi fácil minha conquista, vou tornar-me ríspida, franzir o sobrecenho e dizer "não", porque me faças novamente a corte.”
E também ela fala de seus sentimentos: “Belo Montecchio, é certo: estou perdida, louca de amor; daí poder pensares que meu procedimento é assaz leviano; mas podeis crer-me, cavalheiro, que hei de mais fiel mostrar-me do que quantas têm bastante astúcia para serem cautas.”
Esse tipo de comportamento, hoje, não é muito bem-vindo para a maioria. Qualquer um que exponha demais seus sentimentos assusta aos demais, não tem o mesmo valor que tivera outrora. As relações, de uma maneira geral, parecem ter se tornado mais superficiais, não há muita preocupação o outro. Mas também é verdade que, mesmo naqueles tempos de romantismo, amores eram construídos e desfeitos num estalar de dedos.
Até a noite do baile, em que Romeu conheceu e se apaixonou por Julieta, seu coração estava sob os cuidados da “bela Rosalina”, a ponto de o Frei Lourenço assustar-se ao saber daqueles novos sentimentos: “Por São Francisco! Que mudança é essa? Rosalina adorada e tão depressa posta no esquecimento? O coração no amor dos moços nada influi, senão somente os olhos.”Como julgar um novo amor? Ou um antigo ou futuro? Será que só podemos encontrar um verdadeiro amor ao longo da vida? Tenho medo de descobrir que, por fim, não haverá nenhum.
Acredito que seja muito mais fácil viver um amor fugaz, intenso, rápido e trágico. Ouvi outro dia alguém dizer numa entrevista, como é mais fácil trocar de parceiro do que manter um relacionamento longo. Saber satisfazer a mesma pessoa todos os dias, se reinventar a cada manhã para poder renovar uma vida a dois é muito mais complicado do que viver sempre apenas o frisson dos primeiros meses. Não desmereço as lindas histórias que viveram Isolda e Tristão, Julieta e Romeu, mas imagino o quão bela e difícil deva ter sido manter uma união por tanto tempo como conseguiu o casal centenário. Eles poderiam ter desistido aos primeiros sinais de turbulência, buscado outro par, mas fizeram outra escolha. Gosto de pensar que teria acontecido o mesmo com os casais lendários, se eles tivessem tido tempo de viver o seu amor.

ps: Para aqueles que pensam que tempo não lhes falta e se “Inês ainda não for morta”, vale uma frase de Guimarães Rosa, autor que também criou um casal cuja convivência foi interrompida muito cedo: “Quem muito se evita, se convive.”

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Até breve!


Tudo parecia menor. Essa foi a sensação ao entrar, dez anos depois, na escola em que estudei. Deve ser porque naquela época eu era criança, pensei, mas verdade seja dita, eu não cresci muito desde aquela época. Alguns meses atrás falei que haveria um encontro da minha turma, pois bem, a reunião aconteceu no último sábado.
É estranho como conseguimos nutrir uma intimidade com pessoas que passamos tanto tempo sem ver, mas entre amigos, isso é possível. Rostos e feições parecem, num primeiro olhar, diferentes. Entretanto, a memória se encarrega de nos lembrar que na sua essência são os mesmo, de dez, quinze anos atrás.
Das conversas surgem histórias que pensávamos ter esquecido, um anel que selou uma amizade, uma noite engraçada, uma briga que ninguém sabe porque começou! A comemoração teve, além do passeio pela escola, jogo de futebol, camiseta da turma e jantar, com a presença de alguns professores.

Como era esperado, muitos colegas casados e noivos, alguns com filhos e outros não puderam comparecer, e foram esses os que geraram maiores comentários sobre onde e como estariam, no que trabalham… Ah, e tivemos a participação virtual do Manabu, direto de Londres.
Pena que o dia passou rápido, não deu tempo de conversar com todos sobre tudo. Quando estava de saída um colega me disse: “Nos vemos na festa de 15!” Respondi que não, que esperava vê-los antes disso. Claro que será difícil encontrar a maioria deles, mas que sejam apenas alguns, já serão o bastante pra manter a lembrança daquela época sempre presente.
ps: não consegui falar com o Patrick Dempsey a tempo!


sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Notícias (quase) inúteis

Foi divulgado, ontem, o resultado do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), no qual o Ministério da Educação avaliou 7.329 cursos de 30 áreas. As regiões que tiveram mais cursos de excelência foram a sul e sudeste. A UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul) está entre as melhores notas – junto com a UFRJ e a UFMG. Como vocês podem ver, a abreviatura da universidade federal daqui, muda um pouco, já que não tem apenas a sigla do estado, RS. Deve ter sido essa a confusão da Globo, que insiste em usar “UFRS”. Desde ontem, ninguém conseguiu corrigir a arte que continua sendo usada em todos os jornais da emissora, incluindo a Globo News. É verdade que isso não muda muito, mas é um erro desnecessário.

O ex-presidente Fernando Collor de Melo foi eleito imortal da Academia Alagoana de Letras (AAL), mesmo sem ter publicado nenhum livro. A instituição aceitou os artigos e discursos publicados pelo, hoje, senador, como material suficiente para sua eleição. A posse está prevista pra outubro. Hein? Me nego a falar no assunto, só queria dividir a informação e, espero, a indignação com alguém.

Embora a cesta básica tenha ficado mais barata em nove capitais, a mais cara do Brasil continua sendo a de Porto Alegre, por R$ 238,67. O valor pago pelos gaúchos é 70 reais a mais do que a cesta mais barata que é de Aracaju. ( Dados do Dieese - Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos)

Retiraram do ar o Jornal Nacional de Sexta (TVI), que era apresentado pela Manuela Moura Guedes, jornalista portuguesa conhecida por seus comentários críticos (e sua boca protuberante). Eu me divertia muito assistindo a esse jornal, as causas do cancelamento parece q ainda estão sendo esclarecidas, mas posso imaginar algumas delas... (Informações dos jornais Público e Diário de Notícias)

sábado, 29 de agosto de 2009

Espera...

Há quem diga dela bendita, quando o que se espera é algo bom, feliz, proveitoso, pois trouxe com o seu fim, uma boa nova! Há também quem diga ser a espera maldita, já que nunca sabemos o seu final. Mas também há aqueles que falam dela como necessária, provedora de momentos de reflexão, amadurecimento. Ela pode ser longa, demais para a paciência da maioria ou curta, quanto o tempo de espera entre uma refeição e outra. Todo mundo sempre espera por alguma coisa, por algum acontecimento, por alguém. Nem sempre são coisas extraordinárias, a maioria delas é simples, mas ainda assim, podem demorar a chegar…
Em “Últimos dias”, Drummond diz:

“O tempo de despedir-me e contar
que não espero outra luz além da que nos envolveu
dia após dia, noite em seguida a noite, fraco pavio,
pequena ampola fulgurante, facho, lanterna, faísca,
estrelas reunidas, fogo na mata, sol no mar,
mas que essa luz basta, a vida é bastante, que o tempo
é boa medida, irmãos, vivamos o tempo.”

ANDRADE, Carlos Drummond de. Antologia Poética. Relógio D´Água Editores, Lisboa, 2007.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Legítimo, "Azar o teu!"

Essa é uma história de caráter ficcional, hipotética, mas que poderia ter acontecido. Imagine que tu deixas teu carro estacionado, à noite, numa rua de Porto Alegre. Na manhã seguinte, alívio, o carro ainda está lá. Entretanto, uma hora depois, o carro desaparece. Pergunta-se para todos os vizinhos, pessoas que estejam próximas ao local, ninguém viu nada. O que fazer nesse momento? Ir até a delegacia mais próxima fazer um boletim de ocorrências. Não vou nem mencionar o fato do carro não ter seguro, ainda estar sendo pago e ser usado como veículo de trabalho, vamos para o melhor da história. Três anos depois, um telefonema: “Gostaríamos de informar que o seu carro foi guinchado na data tal, porque estava estacionado em local proibido, se o senhor quiser retirar o seu carro deve pagar 12 mil reais de diárias para o depósito.” Hein??!! Que palhaçada é essa?! Pois, a história segue. Os responsáveis pelo guincho não só não deixaram qualquer aviso no local onde estava o carro, como souberam, pouco depois de a ocorrência ter sido feita, que o carro constava como furtado. Mas, para o completo azar do dono, eles não têm obrigação de avisar isso para a Polícia! Parece uma narrativa um tanto surreal, não?! Talvez eu esteja me passando um pouco no processo criativo, mas tem mais. Depois de obter um documento que restitui o veículo ao seu proprietário de fato, ele não pode retirá-lo sem que as diárias sejam pagas, um valor, diga-se de passagem, superior ao carro no seu estado atual. A esse valor, somam-se os impostos do automóvel que não foram pagos nos últimos anos, porque o infeliz teve a péssima idéia de, durante três anos, pensar que seu carro havia sido roubado! O curioso, é que, nunca, nenhuma multa foi cobrada por estacionamento em local proibido. Bom, agora segue um processo judicial, vamos ver o que eu vou inventar pra encerrar essa história, tomara que a minha imaginação me leve a um final feliz!

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Sem sofrimento, não há romance!

Desde o ano passado, tenho um sonho que já se repetiu algumas vezes. É o meu casamento, mas o noivo eu até hoje não sei quem é. No entanto não é esse o problema, a dificuldade toda é que nunca quero entrar na igreja! Na hora bate a dúvida, o pavor, e eu resolvo não casar! Daí sempre tem alguém que tenta me convencer, já passaram alguns amigos por essa tarefa árdua, entretanto, nenhum deles até agora teve sucesso!
Lembrei desse sonho/pesadelo, porque fui ao cinema ontem, assistir Se beber, não case (The Hangover), do diretor Todd Phillips. O filme teve um orçamento baixo, em relação aos padrões hollywoodianos (só 35 milhões de dólares), mas ganhou no roteiro. A história não é lá muito original, um grupo de amigos vai festejar a despedida de solteiro de um deles em Las Vegas. A comédia não se desenrola sobre a noite que eles passaram na "Cidade Proibida", e sim na tentativa em descobrir o que aconteceu na tal noite que foi simplesmente esquecida por todos e na busca pelo noivo que desapareceu na véspera do casamento! Esse é um dos motivos que sempre me levaram a crer, que não se faz despedida de solteiro às vésperas do casamento!! No mínimo, uma semana de antecedência, pra dar tempo de os noivos aparecerem com uma cara saudável na cerimônia ou de avisar os convidados sobre o cancelamento do casamento! Bom, de volta ao que interessa, o filme é engraçado, tem bons diálogos e nenhuma estrela hollywoodiana querendo roubar a cena, o que já ajuda muito! Bom, meu sonho não parece ter muito a ver com o filme, a menos que o noivo também desista. Será? Não vou contar o final.

*Para Ana Maria
Outro filme que vi foi Romance, do Guel Arraes, com Wagner Moura e Letícia Sabatella. Aninha, se tu ainda não viste, procura! Acho que vais te apaixonar ainda mais! A narrativa tem como pano de fundo a história de Tristão e Isolda, “a origem de todos os casais românticos”, que segue a máxima “sem sofrimento, não há romance”. Será possível um amor recíproco não terminar em tragédia? Essa dúvida não está restrita a qualquer personagem, acredito que ela passe pela cabeça da maioria dos casais...

Para terminar, um filme que foi premiado no Festival de Berlim, Um herói do nosso tempo (Live and Become, 2004), do diretor Radu Mihaileanu. O título em português ficou um pouco apelativo demais pro meu gosto, mas enfim, o filme vale a pena. Em 1984 muitos judeus africanos da Etiópia são levados à Israel com a expectativa de melhores condições de vida. Na ânsia de melhores oportunidades, Shlomo, um menino cristão, é mandado pela mãe como filho de uma mulher judia, que morre logo na chegada à Israel. Ele é, então, adotado por uma família francesa. A saudade da mãe, a inadaptação àquele lugar, onde a água escorria por um buraco no chão, as pessoas dormiam em camas e a uma religião desconhecida, foram dificuldades que Shlomo passou com apenas 9 anos. Foi também nessa época que ele conheceu o preconceito, racial, étnico e religioso. "O filme coloca essa questão. Scholomo é cristão, etíope, africano e vai se tornar também judeu, israelense, francófono." Essa frase que Mihaileanu disse em entrevista à Folha Online (em março de 2006), resume a narrativa. A maneira como o personagem enfrenta todos esses desafios, ligados à identidade e aceitação, é o que impressiona no filme.

domingo, 23 de agosto de 2009

"E o passado é uma roupa que não nos serve mais"

Precisou o Belchior desaparecer pra resolverem falar no grande compositor e músico que ele é. Acabei de ver no Fantástico o "misterioso desaparecimento do artista". Soou tão estranho ouví-los falar de um "cantor da MPB" que fez sucesso há anos atrás, como se a maioria das pessoas não conhecesse o Belchior. Mas depois lembrei q, muitas vezes que me referi a ele, as pessoas que estavam a minha volta, não o conheciam. Que absurdo! Fui ao show dele no Opinião, em 2005 ou 2006, não sei a data exata, mas lembro que adorei! Quase todas as pessoas presentes sabiam as letras e cantavam ao alto e bom tom. Muitas vezes, nesses meses que estive longe do Brasil, me peguei cantanto Apenas um rapaz latino-americano, eu sei, clichê ao extremo, mas a música diz tudo: "Eu sou apenas um rapaz/Latino-Americano/Sem dinheiro no banco/Sem parentes importantes/E vindo do interior/Mas sei que nada é divino/Nada, nada é maravilhoso/Nada, nada é sagrado/Nada, nada é misterioso, não..."
Como ele mesmo disse em Velha roupa colorida, "No presente a mente, o corpo é diferente/E o passado é uma roupa que não nos serve mais", é o que a maioria das pessoas fazem, deixam o passado, o antigo guardado, longe do alcance dos olhos. Essa e Como nossos pais, ambas gravadas pela Elis, estão entre as músicas que mais gosto do Belchior, mas À Palo Seco ainda é a preferida, que ele cantou há poucos anos com os Los Hermanos:

À Palo Seco
(Belchior)

Se você vier me perguntar por onde andei
No tempo em que você sonhava.
De olhos abertos, lhe direi:
- Amigo, eu me desesperava.
Sei que, assim falando, pensas
Que esse desespero é moda em 73.
Mas ando mesmo descontente.
Desesperadamente eu grito em português:2x (bis)

- Tenho vinte e cinco anos de sonho e
De sangue e de América do Sul.
Por força deste destino,
Um tango argentino
Me vai bem melhor que um blues.
Sei, que assim falando, pensas
Que esse desespero é moda em 73.
E eu quero é que esse canto torto,
Feito faca, corte a carne de vocês.(2x)